A narração em primeira pessoa é impregnada de subjetividade, requer um mergulho na própria vida e na observação mais próxima do outro. É uma forma de entender melhor quem somos e o que buscamos na nossa experiência de viver.

A autora Malu de Castro nos fala de suas lembranças vivas, de suas impressões sensoriais que têm o dom de nos transportar para momentos às vezes bem remo-tos da nossa existência. É uma música que se ouve, uma fruta que se saboreia, é o perfume da flor viçosa que vai unindo passado e presente.

No livro, em que se observa a presença marcante de personagens femininas, é salientada a tradição familiar dos mais abastados de darem para as mulheres, como presente de aniversário, joias que vão passando para outras gerações.

Verifica-se também o relacionamento aparentado entre patrões e empregados e a presença de vários personagens que ganham vida, ao longo de sua trajetória, pelas mãos de suas narradoras – mulheres fortes, instigantes e incansáveis.

Zuza, personagem surpreendente por atitudes às vezes audaciosas para sua época, às vezes sábias, vai conduzindo com maestria o seu mundo povoado por pessoas que engrandecem sua história de vida. Sensitiva, é muitas vezes guiada por uma espécie de premonição dos fatos. Enxerga as pessoas utilizando-se de um raciocínio que transcende a realidade, mas nem por isso deixa de ter o seu valor: “quando vi que era virginiana, dei-lhe o cargo de arrumadeira e copeira. Uma perfeccionista saberá arrumar minha casa.” Zuza aposta na intuição, na empatia...

Temos então a enigmática presença da boneca Marusca, que ora permanece no seu papel de boneca, ora se torna indispensável a quem teve o privilégio de rece-bê-la. Como uma joia de família, Marusca vai passando pelas gerações, sempre de avó para neta, de modo misterioso...

A chegada de Luíza na casa de Zuza é surpreendente. Atitudes generosas de-sencadeiam reações  transformadoras... Pelo amor, no seu sentido mais amplo, as pessoas vão se unindo e formando uma verdadeira família.

E assim, interferindo pouco e deixando seus personagens criarem vida própria, Malu de Castro, lá do pomar, parece saborear o jambo-rosa colhido no pé da árvore plantada por Juca Branco...

Hilda Jobim