SEMPRE TIVE VONTADE de transformar em literatura a história da minha vida. Eu acreditava que pudesse, assim, exorcizar meus bichos e livrar-me deles. Não foi fácil começar a escrever, sempre vinha aquela pergunta: “Mas pra quê? Isso é perda de tempo, escrever é desnudar a alma, é se expor, é perigoso!”. Joguei o manuscrito no lixo, por duas vezes, já em bom andamento. Jurei a mim mesma não mais escrever. Procurava não pensar no assunto quando a ideia voltava de forma insistente. No entanto, já no limiar da minha vida, por consequência de uma cirurgia malsucedida no joelho, tive que ficar sem andar por um ano aproximadamente. Escrever foi a única forma de ocupação que eu encontrei para preencher o meu tempo. É uma história sem glamour, mas é a minha história escrita de forma em que literatura e realidade se misturam.